ABORDAGEM DAS VIAS AÉREAS SUPERIORES
ENTUBAÇÃO ORO - TRAQUEAL
Luís Roberto Araújo Fernandes
Guines Antunes Alvarez
“A manutenção de uma via aérea pérvea e a oxigenação adequada dos tecidos são as primeiras preocupações nas emergências. Para tanto é necessário conhecimento anatômico da via aérea e os principais métodos para a manutenção da mesma.”
ANATOMIA
Não pretendemos rever a anatomia completa da região, porém recordaremos alguns elementos anatômicos fundamentais para a compreensão deste ato médico.
Cavidade nasal – é uma via de acesso de suma importância, sendo que se comunica através das coanas à naso-faringe e em seguida à laringe.
Cavidade oral – é a via de acesso mais utilizada devido ao seu diâmetro e fácil manipulação.
Língua – é um órgão predominantemente muscular, fixa à mandíbula, ao osso hióide, ao processo estilóide e à parede da faringe. Com freqüência pode ser a causa de obstrução das vias aéreas especialmente no paciente inconsciente, pois nesta situação há uma perda do tônus dos músculos submandibulares que suportam tanto a língua como a epiglote.
Faringe – é definida como a passagem músculo-membranosa entre as coanas e boca e a laringe e o esôfago.
Laringe – é uma estrutura em forma de caixa contendo cartilagens e músculos; é um esfíncter poderoso e o órgão da fala. Está ligada superiormente à faringe e ao osso hióide e inferiormente à traquéia. É formada por nove cartilagens, sendo uma delas, a epiglote, importante referência uma vez que age como “tampa” e seus processos inflamatórios podem levar a uma obstrução da via aérea com risco de vida. A tireóide é uma cartilagem em forma de escudo que protege as cordas vocais, sendo que articula-se inferiormente com a cartilagem cricóide que possui uma forma de anel.
Traquéia – está compreendida entre a cartilagem cricóide a bifurcação brônquica. É uma estrutura tubular de 10 a 15 cm de comprimento e de diâmetro ao redor de 20 mm. Possui de 16 a 20 cartilagens em forma da letra “C”, fixas por tecido fibro-elástico.
OBSTRUÇÃO DAS VIAS AÉREAS
Deve ser considerada quando um indivíduo para repentinamente de respirar, torna-se cianótico e perde a consciência sem causa aparente. A obstrução completa impede a fala, a respiração e a tosse; o paciente normalmente aperta o seu pescoço, sendo a parada cardíaca possivelmente o evento seguinte. As causas mais freqüentes são:
no adulto, pedaços de carne durante uma refeição
na criança a introdução de objetos levados à boca como moedas, pregos, etc.
a língua, como dito anteriormente e também a epiglote podem ser causas em indivíduos inconscientes.
MANUTENÇÃO DA VIA AÉREA
São muitos os procedimentos para a manutenção da permeabilidade da via aérea, alguns simples, outros mais complexos, dependendo da doença e da situação do paciente. A inspeção cuidadosa da cavidade oral e faringe à procura de corpos estranhos, como pedaços de dentes, dentaduras, pedaços de roupa, sangue é de suma importância, lembrando que a simples queda da língua pode ser causa de obstrução da via aérea.
Feito o diagnóstico, a simples hiperextenção da cabeça e o levantamento do queixo, aproximando os dentes incisivos inferiores dos superiores, provocará melhora imediata. Uma cânula oral tipo Guedel, poderá ter o mesmo efeito (ver cânulas orais). Na situação de poli-traumatismos onde a suspeita de um traumatismo raquimedular cervical não pode ser afastado, a manipulação da cabeça deve ser evitada, sendo que nesta situação o médico deverá tracionar a mandíbula, através do seu corpo e ângulo, contra a maxila, o que também elevará a língua.
ENTUBAÇÃO ENDO-TRAQUEAL
É o método pelo qual se introduz um tubo até a traquéia, comunicando-a com o meio externo através da boca ou nariz. Abaixo estão listadas algumas indicações da entubação endo-traqueal:
Apnéia.
Incapacidade de manter as vias aéreas permeáveis por outros métodos
Proteção da via aérea de sangue e vômito.
Comprometimento evidente ou potencial da via aérea devido lesões por inalação, fraturas faciais ou outras.
Ferimento craniano fechado, exigindo hiperventilação.
Falha em manter a oxigenação através de máscara facial.
Anestesia.
MATERIAL
Máscaras faciais – são máscaras de formato piramidal, adaptadas à face para conter o nariz e a boca. Possuem uma borda que veda a saída de ar, um corpo e conector para um AMBU ou aparelhos anestésicos, permitindo assim introduzir ar, oxigênio ou gases anestésicos. Apresentam tamanhos variáveis.
AMBU – “Airway Maintenance Breathing Unit” é uma bolsa dotada de válvula unidirecional permitindo criar um fluxo contínuo através de sua compressão.
Cânulas orais – são objetos que tem como função manter a língua distante da parede posterior da faringe ou para proteger o tubo endotraqueal da compressão dos dentes. Possuem tamanhos variados, sendo o adequado aquele que vai da rima bucal até o ângulo da mandíbula; se a cânula for muito longa ela poderá empurrar a epiglote e causar obstrução completa; se muito curta poderá desviar a língua posteriormente e piorar a obstrução. Para a introdução da cânula, poderemos abaixar a língua com uma espátula e inserir cuidadosamente seguindo a curvatura da língua e do palato; outra maneira é a introdução da cânula pelo lado convexo contra a língua e rodar 180 graus dentro da cavidade oral. A cânula só deverá ser utilizada em pacientes inconscientes ou anestesiados, pois caso contrário provocará tosse, vômito ou laringo-espasmo.
Laringoscópio - é um instrumento para a visibilização direta da laringe, sendo dividido em alça ou corpo e lâmina. No corpo está reservado para a colocação de pilhas para a iluminação. A lâmina, normalmente se articula com o corpo em ângulo de 90 graus. Ela divide-se em base que é a região de articulação e da lâmpada, espátula e flange, útil para o afastamento lateral da língua. As lâminas podem ser curvas como nos modelos Mackintosh ou retas no modelo Muller, mais utilizados para crianças.
Tubos endo-traqueais – são tubos de borracha, silicone ou materiais afins, com diâmetros variados, dotados ou não de balonetes (cuff), que tem como função a proteção da via aérea de aspiração, por exemplo, de vômito ou sangue e também de formar um selo entre o tubo e a mucosa traqueal permitindo ventilação positiva. Os tubos pediátricos não possuem balonete dadas as particularidades da traquéia da criança.
Guia – é um instrumento de metal ou plástico resistente, que pode ser moldado facilmente, sendo que uma vez introduzido dentro do tubo endo-traqueal lhe confere formato e resistência adequados para facilitar a entubação.
MÉTODO DE ENTUBAÇÃO ENDO-TRAQUEAL
Posicionamento do paciente preferencialmente em decúbito dorsal horizontal.
Hiperextensão da cabeça e elevação da mesma por um coxim.
Ventilação do paciente com máscara facial e AMBU para não expor o paciente à hipóxia.
Laringoscopia: o laringoscópio é inserido pelo lado direito da boca, sendo que a lâmina deslizará pela língua e se posicionará na valécula, com conseqüente desvio total da língua para a esquerda; deve-se neste momento tomar o cuidado de não pressionar o lábio inferior contra os dentes incisivos.
Bascular o laringoscópio cerca de 45 graus em relação ao plano da mesa e levantá-lo. Tal movimento irá expor a laringe e permitir a entubação.
Inserção do tubo, com seu balonete (cuff) previamente testado.
Insuflação do balonete.
Verificação quanto ao posicionamento e seletividade.
Fixação do tubo. Lembrar que movimentos da cabeça podem deslocar o tubo em até 5 cm.
ENTUBAÇÃO ENDO-ESOFÁGICA
A entubação endo-esofágica é uma possibilidade comum e deve ser sempre afastada, pela realização de várias provas e/ou exames, abaixo citados:
visualização direta do tubo dentro da laringe
presença da expansão pulmonar
ausculta dos ruídos respiratórios
ausculta da região epigástrica
capnografia, que é a medida do CO2
condensação do ar ao redor do tubo
retorno de ar pelo tubo
oximetria de pulso
radiografia
verificação de refluxo de material gástrico
- medida do volume expirado.
ENTUBAÇÃO SELETIVA
É uma situação comum, a introdução do tubo endo-traqueal em apenas um dos brônquio-fontes, particularmente no direito, pois este apresenta-se em ângulo mais agudo com a traquéia. Para a correção da situação, que é confirmada pela expansão de um só dos pulmões, basta retroceder um pouco o tubo.
VIA AÉREA DEFINITIVA
CONCEITO
É a obtenção de uma via de ventilação definitiva, como a entubação oro-traqueal, naso-traqueal ou as vias cirúrgicas como a traqueostomia ou a cricotiroidostomia, que deve